VIAGEM
AO PARAÍSO
O dia
estava num clima infernal, ouviam-se vozes felizes nas algazarras dos quatro
cantos do local onde o Luzolo se encontrava. Não enxergava absolutamente nada
porque naquele paraíso não existia luz, apenas as almas sentiam, ouviam e
falavam consigo mesmo nos seus imos. Luzolo não fazia a mínima ideia de como é
que ele foi parar ali, uma vez que ainda se lembrava dos últimos acontecimentos
da sua vida quando estava na terra. E ficou ali, no escuro, ouvindo vozes de
algazarras dançantes penetrando os seus ouvidos, até que, num curto tempo,
começou a lembrar das coisas
«Era numa
manhã de um dia qualquer, ouviam-se os gritos dos petizes a um número de
distância desconhecido, passos de pessoas nas correrias, o latir dos cães eram
audíveis, o cantar dos passarinhos eram vencidos pelos búzios dos carros cujo
cheiro dos pneus queimados era mais forte que dos pães. Luzolo estava prestes a
ir ao seu local de trabalho. Metia a oitava roupa em cima das demais, uma vez
que era o sexto dia que a temperatura do sol no planeta terra havia subido para
141 x 1030ºC e mais qualquer coisa, e uma só roupa não era o suficiente para
sair de casa
Olhou para
o relógio colado na parede que estava a derreter, do outro lado do quarto tinha
uma cadeira feita de fitas dos anos mil novecentos e qualquer coisa, a mesma
foi a cadeira do seu avô e tinha-a no seu quarto como lembrança, uma vez que
todas as manhãs quando acordava encontrava o seu avô sentado naquela cadeira, e
não só, foi nesta mesma cadeira onde ele perdeu a sua continência num amor
insano que na primeira oportunidade que lhe apareceu, assim que estavam numa
conversa com o seu primeiro amor, as coisas aconteceram. E a outra coisa que
ele tem em sua memória acerca da cadeira é que foi ali onde, numa manhã nos
anos mil novecentos e qualquer coisa, assim que saía de casa para o quintal,
encontrara o seu avô morto de doença, ali, na mesma cadeira que hoje
encontra-se num dos cantos do seu quarto com as fitas todas queimadas pela
enfermidade do dia
Saía de
casa para o trabalho, era jornalista de profissão e não podia faltar ao
trabalho assim como muitos fizeram por medo de morrerem. Era cristão e não
tinha medo da morte porque sabia que há um paraíso à espera dele. Um mundo
melhor, onde não haveria sofrimentos, onde ninguém mais morreria porque a fome,
as doenças, a morte e demais sofrimentos do homem não existirão lá.
Caminhava,
não tinha como sair com o seu carro porque a estrada que dava acesso ao seu
trabalho estava debilitada por um tsunami. Ao
caminhar via pessoas a morrerem por não aguentarem a temperatura, carros a
pegarem fogo, prédios a desabarem à distância, pássaros a caírem dos céus já
grelhados pronto a serem comidos. Nos céus, já nem nuvens existiam, as árvores
estavam todas queimadas, as águas dos rios e mares já não eram úteis uma vez
que estavam todas quentes. Luzolo caminhava para o seu local de serviço com um
jornal e uma Bíblia no meio das suas vestes
Quando
chegou ao seu destino, estava todo ele suado, mas mesmo assim a roupa que
vestia encontrava-se seca, desceu para o subsolo, pois a empresa estava a
cinquenta metros»
Abriu os
olhos, ali onde se encontrava, naquele paraíso onde voltou novamente a ouvir
vozes felizes nas algazarras. Ali era diferente do planeta terra, sentia frio,
a brisa do vento vinha leda e suave, ele também se sentia ledo no meio daquele
escuro, o seu coração demonstrava que a sua maior felicidade estava ali onde
não enxergava absolutamente nada. Então ficou a pensar na sua esposa e filhos,
com a esperança de que haveria luz naquele lugar. Voltou a lembrar dos últimos
acontecimentos no planeta terra
« -
Acredita na sua fé, meu irmão, – um dos seus condiscípulos de serviço e irmão
em Cristo falava com ele – isso vai passar, são os últimos acontecimentos que talvez
as escrituras escondessem de nós o tempo todo. Há um lugar melhor do que este
mundo, e tenho a fé que irás encontrar a sua família lá, eles morreram em
Cristo, tu as educaste como as escrituras dizem
- Tenho a
fé, irmão Muhongo, – Luzolo passava a conversa no seu companheiro em Cristo,
enquanto escrevia a notícia que iria passar no jornal da tarde – sei que irei
de encontrá-los no paraíso. Vamos terminar a matéria para irmos pra casa
Enquanto
preparavam a matéria, Luzolo pensava na Linda, sua esposa, e nos seus três
filhos que morreram no primeiro dia em que a temperatura subiu. Depois de
terminarem a matéria, ele e o companheiro foram até à cozinha, retiraram de lá
uns tantos bidões de água fresca e subiram até à entrada da empresa, que era
cinquenta metros acima
Postos lá,
despejaram alguns bidões de água nos seus corpos para suportarem a temperatura
e saíram caminhando pelas ruelas da cidade em direcção às suas residências, uma
vez que ambos moravam em ruelas diferentes mas uma perto da outra. E foram numa
conversa religiosa, o que lhes mantinham em vida era o amor pelo seu Criador e
pelas escrituras
Os céus se
abriram, minutos depois de uma boa conversa entre eles. A temperatura havia
baixado e, nos céus, via-se outros planetas de vista ao planeta terra. As
pessoas que estavam escondidas começaram a sair dos seus escaninhos. Já não se
ouvia apenas os cânticos dos passarinhos, nem o latir dos cães, mas sim via-se
milhares de aves nos céus, os animais terrestres a saírem e a passear por ali
e, em poucos segundos, o mundo se fez uma multidão. Todos felizes a verem os
outros planetas a se juntarem com o planeta terra. Lá mais ao fundo dos céus,
viam-se todas as galáxias a brilharem, não de felicidade e nem de tristeza
- O
criador é poderoso, – Muhongo começou a falar com mil sorrisos nos lábios –
pensava que todas estas pessoas já não faziam parte deste mundo. Mas como é que
eles estavam escondidos este tempo todo?! Terras fundiram, prédios desabaram,
eu vi centenas de pessoas a morrem com a alta temperatura do sol! Mas como?!
- Irmão,
há coisa que não tem explicação – disse Luzolo com os lábios dançando de
felicidade»
Abriu os
olhos, ali onde se encontrava, naquele paraíso onde voltou novamente a ouvir
vozes nas algazarras, felizes nos quatro cantos que o rodeava. Sorriu um pouco
e disse no seu imo: “até ali as coisas iam bem no planeta terra, foi lindo
conhecer os outros planetas a olhos nus”. Voltou a fechar novamente os olhos, e
lembrou dos seus últimos acontecimentos
«Passando
alguns minutos, o planeta terra estremeceu, a multidão toda caiu, os prédios caíram
e as pequenas galáxias começaram a cair dos céus para a terra. Muitas pessoas
foram apertadas pelas estrelas que caíam. Um mar de fogo vinha do leste e
invadiu o mundo todo que nem o dilúvio
…Bum, bum, bumm-bum-bum-bummmmmmmmm…»
Luzolo
havia acabado de lembrar dos seus últimos acontecimentos no planeta terra. Nem
por isso pranteava. Sabia que estava num lugar onde jamais haveria sofrimento,
nem morte, nem fome e outras enfermidades. Estava ledo, gaiato com a esperança
de encontrar a sua família e todos os seus amigos que morreram em Cristo.
Pensava ele que teve a má sorte de chegar ao paraíso de noite e logo que
amanheceria daria conta que as algazarras felizes que ouvia do outro lado eram
de pessoas que ele conheceu no planeta terra
Passando
alguns dias, ainda num mundo escuro onde não se enxergava absolutamente nada,
além de ouvir vozes, sentir e falar consigo mesmo no seu imo, por mais que
Luzolo tentasse falar por fora não conseguia. Ele notou que aquelas vozes que o
alucinavam, eram da sua família quando ele brincava com a esposa e os filhos no
seu quintal. Ali era o paraíso do homem, um mundo absolutamente escuro e sem
nada. O corpo físico do Luzolo desapareceu no fim do planeta terra, e o espiritual
desapareceu ali, naquele desalumiado
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